Na maioria das redes colaborativas as regras do jogo estão claramente definidas na sua governança. Há um estatuto indicando a estrutura de representantes, conselheiros e diretoria. O regimento interno define como os membros devem agir e que punições podem sofrer. Existe um conselho de ética instituído. Por que, então, tantas redes têm dificuldades para colocar essas regras em prática?
Diferente de um esporte em que existem árbitros (supostamente) isentos, responsáveis por monitorar o cumprimento das regras e aplicar sanções, as redes colaborativas são auto-governadas. Ou seja, os participantes criam as regras do jogo e são, eles próprios, responsáveis por garantir que essas regras sejam seguidas. Mesmo quando existe uma organização administrativa que realiza a gestão da rede, ela fica subjugada à diretoria política da rede.
O grande problema nas redes é que existe uma diferença entre as regras definidas na governança e as regras institucionalizadas, isto é, a maneira como elas são de fato praticadas. É aí que reside a raiz do problema: há regras definidas e formalizadas, mas que não fazem parte da prática efetiva dos participantes e acabam perdendo seu efeito quando surge a primeira situação de desconforto.
Algumas práticas podem ajudar a minimizar esse problema, ainda que resolvê-lo seja uma missão difícil:
(1) definir as regras de governança coletivamente, no início da operação da rede, criando compromisso formal de todos em cumpri-las. Quem não se alinha com as regras definidas precisa refletir se realmente deve permanecer na rede;
(2) definir momentos de revisão das regras de governança, quando se poderá discutir eventuais regras problemáticas ou que dificultam a ação coletiva. O foco da governança deve ser garantir a eficiência, eficácia e efetividade da rede;
(3) definir um time de guardiões da governança, que se comprometem a efetivamente aplicar as regras definidas, independente de quem tenha cometido infrações. É mais adequado que seja um comitê ou conselho de ética, uma vez que autonomia total no monitoramento e a aplicação das regras é fundamental;
(4) comunicar claramente as regras de governança aos novos participantes. Redes em busca de novos membros tendem a fechar um olho para regras mais rígidas, mas esse é o começo dos problemas. É preciso fugir da tentação de flexibilizar regras para conseguir novos membros;
(5) aceitar que em algum momento pode ser necessário excluir membros que estejam descumprindo as regras. É melhor ter uma rede menor e coesa do que ampla e frágil; não faz sentido ter regras se elas não são cumpridas. Mesmo fundadores da rede ou membros representativos precisam respeitá-las;
(6) fugir de lideranças que não estejam comprometidas em cumprir as regras do jogo. Ao escolher novos líderes, o grupo precisa ter certeza que os eleitos estão interessados em preservar as regras. Para serem efetivas, as regras de governança precisam ser estáveis, conhecidas de todos e seguidas à risca mesmo em situações de crise.
Você tem outras experiências e recomendações de práticas para garantir as regras do jogo em redes colaborativas? Contribua com o debate!
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